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Síndrome do Pânico
Desmistificando o pânico. Descubra como você pode aprender com ele
 

A chamada “síndrome do pânico” , “transtorno do pânico” ou “distúrbio do pânico” é um estado psicológico e físico extremamente desagradável que traz sérias conseqüências à vida de quem o experimenta. É comum, após a primeira ou segunda crise, a pessoa temer ser atingida por outra e acabar limitando, as vezes tremendamente, a própria vida. Sintomas mais comuns: medo sem motivo aparente que pode chegar ao desespero, taquicardia, sudorese, sensação de “nó na garganta”, tontura, dor de cabeça, falta de ar, tremor, palidez, sensação de morte iminente. Geralmente após alguns minutos estas sensações desaparecem, mas permanece o medo de que retornem.

Muitos estudos e pesquisas tem sido feitas para determinar as causas e soluções para a síndrome do pânico, do tratamento exclusivamente medicamentoso até a religião, embora a maioria dos pesquisadores indique a terapia psicológica, juntamente com o apoio de medicamentos, como a alternativa mais produtiva. A psicoterapia auxilia a compreensão dos motivos do pânico e estimula as mudanças de atitudes necessárias para eliminá-lo. Os medicamentos garantem à pessoa o equilíbrio necessário para poder se beneficiar do processo psicoterapêutico que, frequentemente, pode levar alguns meses.

Em meu trabalho como psicoterapeuta, tenho atendido inúmeras pessoas que, em maior ou menor grau, apresentam os sintomas acima citados. Devido aos bons resultados que temos obtido, quero aqui apresentar a maneira com que abordo a síndrome do pânico e as conclusões que tenho obtido em minhas pesquisas. Espero poder contribuir para a redução do sofrimento que acompanha as pessoas que a experimentam.

Provavelmente a discussão que mais empolga quem experimenta a síndrome do pânico é sobre se é uma doença ou não. Cogita-se até de sua possivel origem genética. Hoje sabemos que as emoções tem componentes tanto físicos como mentais. Pode-se induzir uma emoção injetando-se num sujeito determinadas substâncias (os viciados em drogas vivem fazendo isto), como também pode-se verificar que uma emoção provoca descargas de substâncias na corrente sanguínea que, por sua vez, provocam efeitos físicos como aceleração cardíaca, dilatação da pupila, etc. Isto indica que as duas alternativas são teoricamente viáveis: a síndrome do pânico pode ter uma origem fisiológica (disfunção de algum órgão ou sistema orgânico) e também ter origem numa atitude, num estado mental, psicológico, da pessoa. Já, a discussão da possível origem genética da síndrome do pânico teremos que deixar para mais tarde. Não temos ainda informação suficiente sobre nossos gens. Mantê-la como hipótese é de interesse para cientistas, não para quem está sofrendo, mas é preciso registrar que muitos pesquisadores sérios da genética não acreditam no total determinismo dos nossos gens. Querem dizer que não somos escravos ou vítimas impotentes do padrão genético que herdamos, mas sim que somos o resultado de um conjunto de fatores, sendo o genético apenas um deles. Temos que considerar ainda os hábitos, cultura e escolhas que cada pessoa faz em sua vida. Tudo isto junto determina o que somos.

Esta mesma dúvida, doença (física) ou atitude, atinge também inúmeras outras condições humanas: obesidade, impotência sexual, distúrbios do sono. Há seguidores radicais de uma ou de outra tendência e há os que consideram ambas como possíveis, dependendo de cada caso. Pessoalmente não participo nem de um nem do outro grupo.

Nós somos um conjunto de instâncias: espiritual, mental, emocional e fisiológica (além de mais algumas coisas que não podemos identificar). Qualquer ação sobre uma destas instâncias afetará as demais porque, apesar de agirem de modo distinto, estão interrelacionadas. A experiência demonstra isto. Além disto, estamos inseridos num mundo juntamente com outras pessoas, animais, plantas, pedras. Estamos sujeitos a mudanças climáticas e já sabemos até como provocá-las (só não sabemos como consertá-las depois). Isto tudo demonstra que não podemos considerar o que experimentamos como algo isolado e com efeito limitado a um pequeno segmento do nosso universo pessoal. Temos que abrir o “leque” da nossa atenção considerando nossa história (passado), nossa cultura, o momento em que vivemos (individualmente) e em que vive o grupo do qual fazemos parte. Temos que considerar nossas crenças, nossos hábitos, nossa maneira de pensar. Tudo isto, juntamente com nossas escolhas pessoais, estará participando na criação do que somos, do que sentimos. Dá um pouco de trabalho, mas no fim dá melhor resultado. Compensa o esforço.

Daquelas quatro instâncias a fisiológica é a que parece ser mais resistente a mudanças. Ela demora para ser afetada, mas uma vez que isto acontece, dá trabalho para reverter o quadro. Digo que “parece” mais resistente e não de que “é” mais resistente porque muitos fatos comprovados demonstram que o corpo físico é capaz de fenômenos bem além do que consideramos corriqueiramente possíveis. Uma pessoa sob hipnose pode ser anestesiada para não sentir dor. Eu mesmo pude ver uma pessoa que acreditava estar possuida por um espírito pegar na mão uma brasa viva e manipulá-la sem queimar-se. Não aposto na hipótese de fraude porque há inúmeros relatos semelhantes e porque, no caso desta pessoa em particular, ganharia mais dinheiro (ela bem que precisava) fazendo isto em qualquer circo ou vendendo a “substância isolante térmica” para o Corpo de Bombeiros. A ciência deveria se importar mais em compreender o que acontece aí. Com certeza encurtariamos nosso caminho na direção de uma vida melhor.

Lembre-se do rabo da lagartixa. Se ela pode recriá-lo, talvez um dia possamos também, não o rabo, mas algo mais útil.

Por isto não importa se a causa é orgânica, psicológica, as duas juntas ou um acaso da natureza. O que importa é que possamos, através da nossa ação pessoal, agir em nós mesmos, seja no âmbito físico ou psicológico, e no nosso mundo para mudá-lo, tornando-o e tornando-nos mais compatíveis com nossas necessidades atuais.

Acho importante falarmos nisto porque o que mais ouço dos meus clientes é a provável causa física do seu problema. Eles querem dizer que não estão “escolhendo” o pânico, que isto está fora do seu controle, portanto são apenas vítimas impotentes. Isto é compreensível. É bem o que parece. Mas é também um caminho sem saída. Para ter sucesso na eliminação do pânico, precisamos aceitar que somos agentes do que nos acontece e não vítimas.

O mesmo ocorre com muitos dos nossos outros problemas como obesidade, insônia, timidez ou falta de dinheiro. Preferimos atribuir suas causas a algo além das nossas possibilidades de ação. Isto acalma mas não resolve. No outro extremo, ainda mais prejudicial, estão os que se consideram culpados por não “curar-se” a si próprios. O “culpado” sente-se um idiota porque não consegue resolver seu problema. Sente-se cada vez mais impotente o que reduz ainda mais sua capacidade para resolvê-lo.

Ainda, muitas pessoas que experimentam frequentemente estados de pânico mas sem saber realmente o que está lhes acontecendo, respiram aliviados quando seus sintomas recebem, por parte do médico ou do psicólogo, a classificação de “síndrome do pânico”. Poder dar um nome para o que sentem tem o efeito de trazer para a realidade aquele estado misterioso. Torna-o mais visível, mais aceitável, menos extraordinário. Saber que “é apenas uma doença” devolve-nos a “humanidade”. Isto é positivo se nos ajudar a lidar mais objetivamente com nossos sintomas e com nossa vida, mas é negativo se nos escondermos atrás da classificação para apenas convivermos passivamente com nossa condição de “doentes”.

O fato de sermos agentes do nosso pânico, ou de nossa insônia, não quer dizer que estejamos capacitados para eliminá-los. Temos o potencial para fazê-lo, mas não adianta brigar consigo mesmo, exigir de si mesmo uma mudança do seu estado ou envergonhar-se dele. Será preciso aprender mais sobre seus sintomas, sobre si mesmo e, mais além, agir de conformidade com estas descobertas. Acalme-se, portanto. Aceite sua condição. Este é o primeiro e mais difícil passo: respeitar a nós mesmos.

Há uma coisa com que meus clientes nunca concordam comigo, pelo menos no início dos nossos contatos: quando afirmo que são muito mais inteligentes do que imaginam e que seu pânico é resultado dessa inteligência e não de burrice ou de alguma falha interior.

Alguns chegam a brigar comigo tentando provar a todo custo que são idiotas. Concordo que a gente se sente mesmo idiota quando entra no chuveiro para tomar um simples banho e, de repente, acha que vai morrer, a respiração para, o coração acelera, o mundo desaba (isto aconteceu comigo também).

Outros dão um meio sorriso de condescendência e dizem que estou querendo animá-los. Estão muito longe da verdade. Meu trabalho não é de animador.

Alguns, ainda, acham que é ironia. Estou brincando. Aí é pior. Quem fica bravo sou eu. Meu trabalho é sério. Não brinco com pessoas, ou melhor, brinco, mas não irresponsavelmente.

É que percebo realmente uma profunda inteligência criando reações e atitudes num “plano” extremamente bem elaborado para, pasme, vivermos melhor.

Há alguns (raros, ainda bem) que me olham desconfiados. Posso “ler” seus pensamentos: - Este cara é louco! Como pode chamar de inteligência algo que parece ser minha maior incompetência, que me faz sofrer tanto?
Bem, como os loucos geralmente não admitem que o são, há aí uma chance. Faça seu diagnóstico.

Nenhuma crise de pânico surge ao acaso. O fato de parecer casual, não quer dizer que o seja. Somos muito mais inteligentes do que imaginamos. Enquanto você está sentado lendo este texto, seu corpo está recebendo inúmeros estímulos: visuais, auditivos, táteis. Seu cérebro está analisando cada estímulo e decidindo se vale a pena reagir a ele. Seus olhos estão focalizados no texto, mas seu campo de visão é de quase 180 graus. Você está vendo muito mais do que o texto e seu cérebro está atento a tudo. Você não nota, na janela ao lado, a cortina que balança suavemente ao vento. Ela está no seu campo de visão, mas seu cérebro (você mesmo) decide que não é importante tomar consciência dela. Mas se uma barata atravessar voando a periferia do seu campo de visão, seu berro vai comprovar que seu cérebro estava “ligado” e analisando tudo o que podia ser visto. Da mesma forma, há todo um processo mental incessante que não chega à nossa consciência. Dizemos que são subliminares (não atingiram o limiar da consciência).

Você está num trem indo para o trabalho. Passa o tempo organizando mentalmente suas tarefas do dia. De repente toma consciência de que está triste. Procura lembrar-se do que estava pensando. Será algum problema com alguma das tarefas? Você conclui que não. A tristeza parece casual. Talvez você nunca venha a saber, mas do outro lado do vagão havia uma senhora que estava quase chorando. Você não notou, conscientemente, mas seu cérebro registrou tudo. Sem perceber você entrou em empatia com a senhora e chorou junto. Muitos dos nossos sentimentos parecem casuais porque não tomamos consciência dos fatores que os desencadearam. Será necessário um esforço de atenção para compreender seus motivos.

Chico me procurou porque já estava evitando sair de casa. Ainda ia trabalhar, mas com muito sofrimento. Quando se via preso no congestionamento do trânsito achava que ia morrer. Não podia mais caminhar no bairro em que morava. Nunca viajava, não sabia o que eram férias, porque não as aproveitava. Seu trabalho ia de mal a pior. Parte de suas tarefas era visitar clientes, mas ele as evitava. Quando disse a ele que era inteligente, por isto estava em pânico, achou que tinha ouvido errado. Repeti, era isto mesmo. Como há alguns anos ele havia participado de um dos meus cursos, me deu, a contragosto, um pequeno voto de confiança. Disse: -Vá lá. Vamos fazer de conta que isto é inteligência, mas a mim ainda parece uma grande burrice!
Precisamos de algum tempo para conhecer sua história e compreender aquele “plano” perfeito a que me referi. Em linhas gerais a coisa era o seguinte: Chico adquiriu na infância a crença de que tinha que aceitar. Aceitar tudo. Não podia dizer “não”. Conviveu com isto por muito tempo sem, aparentemente, grandes conseqüências. Mas adulto, casado, sem dinheiro suficiente, num trabalho insatisfatório, seu problema veio a tona. E ele aceitava. O chefe (os vários chefes no seu trabalho), a esposa, os parentes, os amigos... Tinha que sempre estar disponível e fazer o que os outros esperavam dele. Tinha que chegar na hora certa, tinha que ter sucesso. À medida em que tomava consciência disto, Chico ficava mais irado e percebia que, muitas vezes, escudava-se em sua “doença” para evitar algum compromisso desagradável (pura esperteza). Aí não agüentou. Começou mandando todo mundo prá puta que o pariu (não precisou fazer isto cara-a-cara. Não recomendo. Basta fazer sozinho). Sentiu uma força brotar dentro de si. Começou a recusar-se diante de parentes e amigos. Percebeu que as pessoas deixavam de tentar escravizá-lo. Seu trabalho começou a melhorar. Tirou férias, viajou, dirigindo seu carro. Agora Chico está experimentando o poder pessoal que descobriu em si. Sempre havia estado lá, apenas não o usava.
Muitas das situações que provocam o pânico, como ficar preso num congestionamento de trânsito, indicam o “caminho que devemos seguir” para eliminar o mal estar. No caso de Chico, o trânsito parado representava a prisão em que tinha se metido. Quando percebeu que sua vontade era berrar palavrões no meio do trânsito, percebeu também que raramente confrontava as pessoas. Raramente reclamava seus direitos. Não adianta nada gritar com os outros motoristas, e não foi isto que fez. Agüentou o trânsito, mas passou a ser muito mais exigente com os outros.

A pessoa que sofre de estados frequentes de pânico está com sua coragem enrustida. Ela a tem, mas recusa-se à usá-la, porque acredita que seria pior. Como você pode perceber, é a inteligência, e não a burrice, que nos leva a escolher o melhor, ou o menos pior, caminho. É claro que ela funciona a partir de nossas crenças, que podem ser inadequadas, inexatas. Por isto precisamos questioná-las, mas para isto é preciso aceitá-las (respeite-se - é bobagem brigar consigo mesmo), perceber como determinam nossa vida e só então mudá-las.

Nós aceitamos nossas crenças como se fossem verdades eternas. Substituímos o conhecimento, a consciência, pelo que acreditamos (ou pelo que os outros acreditam), sem questionar. Não por incompetência nossa mas porque há aí um mecanismo instintivo funcionando. É muito mais econômico, em termos de gasto de energia, aceitar algo como verdadeiro ao invés de questionar, investigar, e ter que mudar de posição. Quando a crença está de acordo com a realidade, tudo bem, mas quando não está sofremos as conseqüências da inadequação. A solução é se dar ao trabalho de tomar consciência da realidade dentro e fora de nós mesmos.

Nos últimos anos surgiram muitas técnicas chamadas de “reprogramação do inconsciente”. Elas baseiam-se no fato de que nossas atitudes e comportamentos são, uma vez aprendidos, como programas de computador. Funcionam automaticamente e sempre do mesmo jeito. Quando seu resultado não nos interessa, basta fazer uma reprogramação (não é tão fácil como pode parecer), modificando-os para que atendam nossas necessidades atuais. O problema é que, algumas vezes, estas técnicas funcionam de fato. Pode parecer absurdo mas é aí que reside seu perigo. Lembre-se do nosso amigo Chico. Digamos que conseguíssemos reprogramá-lo para que se sentisse bem. Continuaria aceitando tudo como sempre o fizera, só que agora mais contente. Aguentaria pacientemente o chefe chato. Seria um escravo feliz. Mas ainda bem que nossa inteligência não o permite. Saudavelmente ele arranjaria outro sintoma, uma dor de barriga talvez, para não cumprir o horário absurdo do seu trabalho. Não podemos, portanto, tentar “reprogramar” nosso inconsciente sem nos dar ao trabalho de compreender as causas de nossas atitudes (do que foi programado). Isto é o mesmo que extirpar nosso livre arbítrio e um tremendo descaso para com nossa inteligência. Não precisamos reprogramar nada. Isto é feito automaticamente quando compreendemos e atualizamos nossas crenças. É preciso deixar claro também que nosso inconsciente não é um depósito de monstros. Uma interpretação confusa dos mecanismos de nossa psiquê gerou esta imagem. É absurda. O que temos é apenas memória e processos automáticos de resposta a estímulos externos. Ao avaliar detida e profundamente os motivos para seus sentimentos e desejos você vai encontrar apenas o que já sabia, mas tinha esquecido. Vai encontrar a beleza que é sua verdadeira natureza.

O uso de medicamentos que aliviem nosso sofrimento não se enquadra naquela categoria da tentativa pura e simples de eliminação dos sintomas. Sabemos que seu uso deve ser temporário enquanto pesquisamos as causas do problema, o que os torna muito úteis. A medicina tem dado contribuições maravilhosas à nossa vida. Vamos aproveitá-la produtivamente.

Fátima não conseguia mais sair de seu apartamento. Nem mesmo chegava ao corredor do seu andar. Eu a atendia em sua casa. Com 56 anos de idade, Fátima havia passado por muitas situações difíceis em sua vida. Cuidando sozinha dos filhos, tendo que arcar com todas as despesas, Fátima sempre assumiu a direção de sua vida, de sua casa, da educação dos filhos. Seu trabalho era movimentado e algo arriscado. Muitas vezes teve que entrar em confronto com pessoas. Com o avançar da idade começou a sentir que precisava parar. Estava cansada. Neste período começaram a surgir os primeiros sintomas da síndrome do pânico. Aposentou-se e, algum tempo depois já tinha sido dominada pelo pânico. Ao contrário de Chico, Fátima nunca teve dificuldades em dizer “não”. Tinha até um estilo bastante briguento. Seu problema era outro. Sempre ajudou, sempre garantiu a vida de seus filhos e até de parentes. Agora era ela quem precisava de ajuda, de apoio. E era justamente isto que Fátima menos queria pedir. Continuava mantendo sua postura orgulhosa e de “poder”. Admitia ter uma doença, a síndrome do pânico. Isto dava-lhe algum espaço para pedir ajuda. Mas era só. Quando compreendeu que não queria admitir que seus filhos, adultos, já não precisavam da mãe como mantenedora e tinham até a obrigação de cuidar dela, começou a relaxar e aceitar que não precisava mais manter a “pose” de todo-poderosa. À medida em que admitia, diante dos seus parentes, que precisava deles, sentia-se mais livre para sair do seu apartamento. Infelizmente ela precisou mudar de residência e não prosseguimos no processo terapêutico, mas em nosso último encontro ela já podia passear pelo jardim do prédio em que morava e até já saia pelo bairro, acompanhada dos netos. Começava a assumir sua liberdade, a liberdade de precisar de ajuda, de não ter que ser perfeita.

Confundimos independência, responsabilidade pessoal com “resolver sozinho nossos problemas”, com ser “perfeito”. Sentimos vergonha dos nossos sentimentos, do que nos parece fragilidade. Escondemo-nos dos outros. É frequente as pessoas tentarem esconder até dos seus familiares mais próximos suas crises de pânico. Ficam com dois problemas ao invés de um. Temos medo de pedir ajuda e sermos dominados pelo outro, de tornarmo-nos dependentes como quem vicia-se numa droga qualquer. Isto é, no mínimo, perda de tempo. Podemos até resolver nossos problemas sozinhos, mas será que compensa o esforço? Nossas crenças distorcem nossa visão da realidade. Funciona como uma hipnose. Acabamos vendo o que queremos, o que aceitamos ver, e não o que precisamos ver. Como as outras pessoas tem suas próprias hipnoses, provavelmente diferentes das nossas, é para elas muito mais fácil perceber que nos enredamos numa teia desnecessária. Ouvi-los encurta o nosso caminho. A psicoterapia é um poderoso instrumento de desipnose. Acaba saindo mais barata quando comparamos com os prejuízos que temos ao limitar nossa vida (e nossos rendimentos) devido ao pânico. A Internet tem trazido uma contribuição tremenda para as pessoas que se sentem sozinhas com seus problemas. Através da rede podem conversar com outras pessoas que sentem as mesmas coisas, trocar experiências e opiniões. Há muitos grupos discutindo o pânico. Participe.

As pessoas sempre me perguntam: - Basta saber (tomar consciência) da causa do meu problema para resolvê-lo? A resposta é “NÃO”. Chico descobriu que não confrontava as outras pessoas. Isto não resolveu seu pânico. Precisou confrontá-las realmente, e aí sim, seu pânico deixou de ser necessário. Fátima também precisou pedir ajuda, em alto e bom som. Isto a libertou.

O que resolve nosso problema é a AÇÃO. Por isto não adianta esperar uma cura milagrosa, seja de que fonte for, se pretendermos continuar comodamente agindo da mesma forma de sempre. Teremos que agir diferente, pensar diferente, viver diferente.

E aí fica claro que o pânico é, na verdade, nosso aliado. Ele nos obriga a tomar uma posição, a mudar nossa vida. E, se o fizermos, encontraremos uma vida muito mais de acordo com nossas necessidades atuais, muito mais produtiva, mais feliz, mais viva.

Quando você cheira o bife que ficou na geladeira para saber se não estragou, está usando seus sentidos para avaliar a “realidade”. Se o cheiro for ruim, você joga o bife fora. A qualidade do cheiro, boa ou má, é uma avaliação do seu cérebro, do seu instinto. Uma mosca vai achar o cheiro ótimo, porque a carne estragada é boa para ela. Nossas emoções também são instrumentos de avaliação da realidade. Quando, diante de uma situação, sentimos uma emoção agradável, é porque achamos que esta situação é boa para nós. Você vê uma pessoa e sente simpatia. Pode se aproximar. Vê outra e sente aversão. Se afasta. Quando você se depara com uma situação que avalia como perigosa, sente medo. Este medo lhe dá forças para fugir ou, se pretender lutar, perceberá que este medo se transforma em raiva, e você ataca.

Nossas emoções servem então de alerta sobre nossa relação com a realidade. É como a luzinha indicadora do nível de óleo do motor do carro. Ela acende quando falta óleo, serve de alerta. Na grande maioria das vezes em que acender, será por falta de óleo mesmo (a origem do problema está nas atitudes do motorista). Mas talvez em algum momento ela possa acender porque deu defeito no sensor (origem do problema no âmbito físico). O pânico é a luzinha do óleo acesa. É um alerta de que estamos vivendo mal (e muito antes do pânico). Talvez em alguns casos (nenhum do meu conhecimento), o sujeito estivesse vivendo muito bem, satisfeito, expressando-se livremente, exigindo normalmente seus direitos e de repente, por uma falha orgânica casual, entra em pânico (defeito no sensor). De qualquer forma, seja uma causa ou outra você terá que resolver o problema.

Quando entramos em pânico, achamos que vamos morrer. Na verdade entramos em pânico porque já morremos (não é aquela morte de ir pro cemitério - talvez seja até pior). Não estamos vivendo como queremos, não estamos falando o que queremos, não estamos utilizando nosso potencial no trabalho, no estudo, nos relacionamentos. Deixamos que os outros façam com a gente o que querem. Não estamos amando. Não exigimos respeito. Morremos. Nossa inteligência nos alerta: sentimos medo.

Há dois tipos de medo da morte. Um deles todos nós temos. Todas as coisas vivas o tem (experimente tentar matar aquela barata que passou voando perto de você). É o medo da morte física. Ele nos permite evitar perigos e mantermo-nos vivos. O outro medo é o alerta de que estamos vivendo muito mais pobremente do que podemos, não estamos sendo felizes. O primeiro medo não incomoda tanto. O outro aterroriza - é nosso instinto fazendo seu trabalho.

Faça um exercício: da próxima vez que sentir medo da morte, ao invés de achar que vai morrer, aceite que já morreu. Observe como tem vivido e perceba em quais aspectos de sua vida você tem estado morto. Vai ficar impressionado com as oportunidades que está perdendo de viver mesmo. E o interessante é que, à medida em que perceber as várias pequenas mortes em sua vida irá notar que seu pânico desaparece. É que você, como um bom motorista, percebeu que está faltando óleo e já está indo colocá-lo. No caso do carro, como a luzinha não é inteligente, só apaga quando o nível de óleo for completado. No nosso caso nosso instinto desliga o alerta tão logo tomemos consciência do problema. Ele já fez sua parte. É claro que se você só tomar consciência mas não fizer nada, o instinto irá alertá-lo novamente logo, logo. Agradeça-o. Isto evita que você funda o próprio motor.

Se você puder ver seu pânico como uma oportunidade de mudança para melhor, estará abrindo-se para si mesmo, para compreender seus motivos, e saberá o que deve fazer para ter a vida que deseja.

Cada pessoa tem seus próprios motivos e sua própria história para entrar em pânico. Mas há uma condição que descobri presente em todos os que sofriam com a síndrome do pânico: a auto-exigência. Todos “tinham que”, “deviam”, “eram obrigados à”. Eram até obrigados a ser saudáveis. Não há prisão maior que esta.

Nós temos o direito de não sermos capazes, de errar uma, duas, cem vezes. Temos o direito de estarmos em dúvida, de precisarmos de ajuda, de estarmos doentes, de não mantermos eternamente a mesma cara (ou barriga) que tinhamos com 20 anos de idade. Somos humanos, não há nenhuma necessidade de sermos “perfeitos”, seja lá o que isto signifique. Dar-nos espaço para sermos o que somos nos torna livres. Aceitar nossas limitações permite que vivamos bem apesar delas. Com tempo poderemos rever estas limitações e talvez até eliminá-las, mas com calma e, volto a dizer, com respeito a nós mesmos.

Direitos autorais reservados.

Reprodução autorizada do artigo, parcial ou totalmente, desde que informe:

Autor: Alfeu Marcatto - Tel: 11 4396-1065 - Cel: 11 6569-9214 (horário comercial)
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